terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Relato do Pedal 2009/2010 - Parte 01/muitas

Este relato pedi ao Roberto Brandão para que me enviasse o qual estaria publicando no blog, assim ele o está fazendo aos poucos para que possamos criar expectativas de como foi este final de ano maravilhoso.

Eis aqui o esboço do circuito no mapa e um começo que merece ser contado com calma...

Pedal de 2009/2010

Morretes (América) - Serra da Prata e Limeira - Garuva - Vila da Glória - Itapoá (pela costa) -

Guaratuba e Caiobá - Gaivotas - Floresta Estadual do Palmito - Morretes (América)

262 km

Heron Mathoso / Roberto Brandão

Num dia, já estava conformado em passar a virada de ano em casa. Nem imaginava que no dia seguinte, depois de alguns telefonemas do Heron, eis que estaríamos em Morretes, prontos para começar o que seria uma grande volta de bicicleta rica em boas histórias, encontros com velhos e novos amigos, e em meio a lugares inacreditáveis.

E se digo lugares increditáveis, tanto quero expressar o fato de serem belíssimos por natureza, quanto falo da minha dificuldade em acreditar que tinha passado por lá. Na travessia de balsa de Guaratuba para Matinhos, por exemplo, o Heron apontou para as montanhas quase cinzas mas ainda visíveis, do lado oposto ao do mar e lembrou que passamos por trás delas, de Norte a Sul, chegando até o litoral e ali estávamos. Hein?! Como assim? Calma.. Vamos explicar essa volta maluca que fizemos, esse agora inaugurado "Circuito Vale Heron".

Fase 1:

Partimos de uma chácara na região da América, em Morretes-PR, passamos pela Estrada da Anhaia, e pela rodovia asfaltada que se liga à BR-277. Já no início, precisamos perguntar sobre caminho até o Anhaia. Soubemos que teríamos que atravessar um rio adiante.

A vaca apavorada

Na verdade, foi preciso atravessar bem mais do que um rio. Num certo trecho, apareceu uma boiada vindo em nossa direção. Era vaca para todo o lado, ocupando a estrada inteira. Se eram perigosas, eu ainda não sabia. Mas que tinham dois chifres bem pontudos, tinham. Esperamos parados na margem direita da estrada, enquanto o boiadeiro gritava "direita!" e todas as vacas enfileiravam-se e passavam por nós. Só que elas passavam um tanto assustadas com a nossa presença. Até parecia que nunca viram duas criaturas com duas rodas, camisetas coloridas e capacetes de extraterrestres por aquelas pastagens antes.

As vaquinhas foram passando, passando, até que restaram quatro, três, duas vaquinhas... e aí só Deus explica porque justo a última vaca resolveu parar e empacar na nossa frente. Imagino que aquela ali sabia o quanto nós apreciamos um bom churrasco. Podia-se ver a expressão de medo nos olhos de jabuticaba da vaca. Suas pernas, quando ensaiavam um passo adiante, tremiam feito vara verde e recuavam dois. Numa tentativa de acalmar a bovina, chamei-a, voltei, apontei o caminho, mas ela se assustou mais ainda. Com as cercas dos dois lados da estrada, nem ela nem nós podíamos nos esconder no mato. Então, fazer o quê, como não dispunha de todo o tempo do mundo, o jeito foi avançar devagar e esperar para ver se ela reage de vez e toma uma atitude de vaca. Que nada. Fez meia-volta e correu para longe do rebanho. E o boiadeiro? Este tinha passado já há algum tempo e estava até fora da vista. A vaquinha, coitada, voltou a cabeça umas duas vezes só para ver se nós já tínhamos desaparecidos, se por acaso nosso disco voador não tinha voltado para nos tirar dali. Para desespero da fugitiva do rebanho, não. Por fim, ela correu até onde não enxergamos mais e entrou numa propriedade cuja porteira estava aberta. O que com ela aconteceu depois disso, agora só perguntando para a própria vaca.

Pé no rio

Tomamos uma ramificação da estradinha, conforme nos indicaram. Dali para diante, poças de água cada vez maiores iam aparecendo. Desvia pela direita, desvia pela esquerda, pelo meio.. e opa, esta é grande, passa por dentro, mesmo. Assim, molhando os aros nas grandes poças de água pelo caminho, cuidei para não molhar o tênis, batendo giros incompletos no pedal até sair da poça. Até poderia molhar aquele calçado. E daí, oras? Problema é que pedalar depois com as meias molhadas deixaria o tênis, no mínimo, com um terrível odor de gato morto. Heron, que já começou de sandálias, ideal para este clima, nem precisou se preocupar.

Chegamos ao riacho com pedras. Parecia raso e tranquilo o tal rio. Pendurei então um tênis em cada lado do guidão. Eu atravessei descalço, empurrando a bike, sem dificudades. Depois, sequei os pés num trapo que eu levei para este tipo de coisa e calcei novamente o tênis.

Porém, poucos metros depois, surpreendi-me com outro rio, um gigante que interrompia a estrada, bem mais largo que o primeiro. "Ah, é ESSE o rio...!" - exclamei. Seria fundo? Notei que pela outra margem estava chegando um senhor de idade e também estava de bicicleta. Sugeri esperar o homem - provável conhecedor da região - atravessar para seguirmos o melhor caminho. "Aí pelo meião mesmo" - orientou o homem. Notei que a água chegava até a cintura, mas isso para quem conseguia se equilibrar e não cair. Tratei de tirar a câmera da cintura e amarrá-la na altura do peito. Heron nem esperou o homem terminar a travessia. Usou a boa técnica de segurar a bicicleta nas costas e caminhar livre. Passou um apuro chegando no final, onde a correnteza era forte. Assim mesmo, atravessou melhor que o velho.

Eu não conseguia fazer o mesmo. Minha bagagem, quase toda atrás e mal amarrada no bagageiro, deveria ter vindo com aquele símbolo "este lado para cima" na etiqueta. O máximo que eu consegui foi erguer um pouco a bike ao lado do corpo, segurando pela barra vertical do quadro. Precisei fazer força para me segurar contra a correnteza que empurrava minhas canelas e as rodas da bike, com o braço cansando de segurar, tentando me equilibrar e tatear as pedras do fundo para atravessar todo o rio. Sabia que se não me concentrasse bastante, tombaria e deixaria a bicicleta e a bagagem toda ser levada rio abaixo. No mínimo, seria cair e molhar a câmera. Felizmente, deu tudo certo em nossa travessia. O máximo que aconteceu foi sujar os pés com a terra molhada da margem do outro lado. Bastou pedalar descalço até secar a lama.

.... Continua.

E tem muito chão pela frente!

Os apontamentos estão completos. Agora saem os textos.

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