quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Cicloturismo 23/01 Serra da Prata


Começamos animados, depois alegres, depois apreensivos, depois compenetrados, por fim cansados alegres e animados. Assim foi a Serra da Prata. O clima ultimamente está judiando de muitos, ainda é ele que determina o seu momento e nós temos que nos curvar a ele, ou melhor, levantar a cabeça senão a gente morre afogado. No início aquela chuvinha chata e a sujeira preta na água deixada pelos carros ao longo da BR 277 sentido Paranaguá é o que estava mais atrapalhando (tive que lavar minha roupa, que não foi nada fácil). Pneu furado aqui, pneu furado ali, parada para lanche, começamos na estrada da Limeira sentido Serra da Prata sem chuva. O sol querendo dar as caras, e logo na subida, mas por pouco tempo. Nada que tirasse aquela vontade de entrar no rio, que, mesmo com toda esta chuva que tem caído ainda continua com as águas limpas. Eu entrei. Os pontos alagados no caminho não eram obstáculos para nós, e chegamos em Limeira no rio Canasvieira, onde pudemos começar a sentir o quanto tinha chovido na região.
Perguntas daqui, informações dali, decisões a tomar, o rio Cubatão estava passando por cima da ponte, e como naquele rio a correnteza é muito forte, sei, não daria para passar por ela, mas também sei que tem duas pontes de arrame, como é chamado na região, que poderímos atravessar, mas não é o que indicava, pontos alagados antes poderiam impedir nossa passagem, e mesmo as pontes de arrame estavam sem acesso devido a cheia do rio. Mas seguindo a frente o Riekes e o Junior, demos um tempo o restante, e seguimos em frente também. Pontos alagados! Brincadeira! Água até a cintura no primeiro momento, e quando foi para atravessar a ponte de arrame... fácil, o pior estava depois, um trecho de quase 100 metros com água e água até o peito, teve até quem nadou, não é mesmo Adriana? Mas tudo isso prova que unidos, todos podem vencer.

Sem chuva melhor, mas se for fácil não tem valor, nem histórias para contar.

Abraços e até a próxima.

Heron Mathoso
41-9917-8372
41-3247-6123
www.naturezarlivre.blogspot.com
heronmathoso@gmail.com

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Relato Pedal de 2009/2010 - Parte 2

Depois dos "causos" da vaquinha e do riozão, vamos dar sequência a nossa aventura de 2009/10 com mais uma parte do relato.

Pedal de 2009/2010

Morretes (América) - Serra da Prata e Limeira - Garuva - Vila da Glória - Itapoá (pela costa) -
Guaratuba e Caiobá - Gaivotas - Floresta Estadual do Palmito - Morretes (América)
262 km
Heron Mathoso / Roberto Brandão

Logo chegamos à Estrada da Anhaia e paramos em frente a uma propriedade. Não havia ninguém por perto, mas entramos assim mesmo. Era um antigo alambique, do qual o pai do Heron tinha sido sócio há 30 anos. O galpão abrigava grandes barris e uma roda d' água que provavelmente estaria aposentada. Saímos sem saber se ainda funcionava o alambique. Se teria alguma bebida naqueles tonéis de madeira, imaginei que deveria ter o suficiente para Morretes inteira e para todos os turistas que aparecessem, tamanho tinham os barris. De qualquer modo, o Heron conta que guarda - a sete chaves e em oito cofres - uma preciosa garrafa de cachaça ainda daquela época.
Adiante, chegando numa bifurcação onde eu sempre segui para a esquerda passando sobre a ponte, Heron sugeriu o caminho à direita. Era mais um que eu não conhecia, e um bom atalho que nos levou até a rodovia asfaltada de Morretes para a BR-277.
Nesta chegando, nem era preciso pedalar ao longo da 277. Bastaria atravessá-la e seguir por outra estrada de chão. Numa tentativa de encurtar o caminho, atravessamos a pista da volta dali onde estávamos, sem procurar o retorno. E de pé ao lado da bike, no talude gramado entre as pistas, segurando-as com o freio numa posição inclinada, ficamos aguardando a passagem dos carros. Só que eram muitos, muitos carros. Não vamos esquecer que era final de ano. Era aquele movimento incessante de veículos rumo ao litoral, vindo da Grande Curitiba e de todas as partes do estado, a tal ponto de sugerir uma dúvida: "será possível que cabe tanta gente assim nas praias?".
Quando enfim e aleluia que surgiu uma brecha um pouquinho maior entre os carros, atravessamos correndo.
Essa espera para cruzar a BR até nos rendeu boas risadas. Pois, pensando bem, atravessar aquele riozão lá do início até que não tinha sido tão difícil assim...
Fase 2:

O próximo desafio que nos aguardava era a subida da Serra da Prata.
Mas não sem uma parada para "abastecer" em um mercadinho local, com um bom sanduíche de queijo e mortadela preparado ali na hora. Aqui, não posso deixar de mencionar o curioso menino curioso que passava, com sua bicicleta do aro pintado de vermelho e que parou para conversar com a gente. Por muitas razões, torci para ele não pedir para ir conosco. O garotinho nos perguntou aonde íamos, se aquela bicicleta era minha, se esta era a do Heron, de quem era este capacete, de quem era o outro capacete... e assim ia. Eu ali, com a boca aberta, pronta para devorar o pão que eu segurava com uma mão e o copo de refrigerante na outra, mas eram mais perguntas para responder ao menino do que as mordidas que eu tinha para dar no sanduíche. O jeito foi inverter os papéis. Passamos a fazer mais perguntas que ele. Não sei porque não demorou muito e ele logo seguiu seu caminho.

Já passava das 10h30 e mal tínhamos iniciado nesta estrada. O sol já começava a mostrar a força de sua presença. A esta altura, já estava usando chinelo, chapéu e escolhendo o lado de mais sombras para pedalar.
Só que há ali muitas pedras soltas. É terreno para pedalar devagar e com cuidado. Bem que o Heron falou que nesta estrada, só com "trator a jato". Até tirou a foto de um destes para provar.

Águas que valem ouro na Serra da Prata
Então, se o caminho tem dificuldades assim, por que percorrê-lo?
Só quem experimenta para descobrir a maravilha de passar pela região da Serra da Prata, com as vistas dos morros tão próximos, o cheiro do mato, o barulho das águas dos diversos rios. São rios que cruzamos ou mesmo que margeiam a estrada; rios que desaguam nas baías de Guaratuba/PR e rios que desaguam na baía da Babitonga, em São Francisco do Sul /SC, divididos pela serra.
À cada ponte que passávamos, víamos as pedras mergulhadas que se refrescavam naquelas águas cristalinas. Escolher um desses rios para um banho era uma idéia tentadora. Mas enfrentar a subida forte depois, bem sob o sol do meio-dia, é que não era. Olhamos um para a cara do outro e combinamos "Depois da serra?", "Depois da serra." E com esse estímulo, pensando no rio como prêmio, alternando entre marcha leve e empurrando a pé, bebendo a água do cantil e suando ela toda em seguida, subimos os 4 km da serra. Em cada parada para descansar em alguma curva, olhando a mata nativa enquanto sentia o batimento relaxar, vinha-me uma revigorante sensação de paz. Às vezes, até podia ouvir o barulho da água em algum lugar lá embaixo.
Claro que entramos num desses rios logo ao terminar a descida. E que banho! Com direito a hidromassagem natural, que se forma pelas quedas d' água entre as rochas maiores. Heron fez de uma destas uma poltrona, com água corrente, comendo um salgadinho, vida de rei. Eu deitei na água, deixei só o rosto para fora da superfície, fiz de uma pedra um travesseiro, coloquei um pé em cada queda d' água, e esqueci da vida.
Com o Sol a pino, as pedras do fundo do rio ganham uma coloração dourada. Não dava vontade de sair dali. Mas quando saímos, saímos renovados, como se todo a viagem estivesse começando dali. A água fria refresca e parece levar embora todo cansaço, não apenas de uma caminhada longa, mas de um 2009 inteiro de muito trabalho.
Inseto com número de série
Pude ver algumas plantas que não via há muito tempo, bem como outras que só fui encontrar por ali, como algumas flores diferentes. E, momentos antes, quando estávamos para descer a Serra da Prata, pousou sobre a camisa do Heron uma borboleta listrada feito uma zebra, e com um número "98" desenhado numa das asas. Na verdade, é conhecida como borboleta 88. Achei aquela espécie, até então estranha para mim, merecedora de uma boa foto para recordação. Aproximei a câmera com cuidado, acionei o zoom ao máximo, mas ela voou. Voou e voltou para a camisa, exibindo-me agora a outra asa, com o número "89". Aí fiz o disparo, meio que de longe para não perder a chance de novo. Até que a foto ficou legal, apesar de não ter conseguido um daqueles closes de revista científica, como eu queria. Bastou desligar e guardar a câmera para esta bela criatura voar e pousar na minha mão, a 30 cm dos meus olhos.

Carga pesada
Heron já conhecia bem a estrada. Era apenas a minha segunda passagem por ali. A descida estava mais fácil do que da outra vez, por estar com menos pedras grandes e soltas. Em compensação, desta vez estávamos carregados.
Na minha bicicleta, quase todo o peso extra de uma mala de roupas da viagem, água, ferramentas e a barraca estava concentrado sobre o bagageiro e, por consequência, sobre o eixo da roda traseira. Como a estrada tinha muitas pedras salientes, era preciso ir bem devagar para não forçar demais o aro ou o eixo. Na descida da serra, por exemplo, bastava eu tentar soltar um pouco mais os freios, já começava a sentir e ouvir os impactos da roda no chão. E ali, pode acreditar, não seria um bom lugar para escolher ficar sem roda.
A carga transportada pelo Heron estava bem distribuída, especialmente por causa de sua invenção bolsa-quadro sob medida. Mesmo assim, as pedras da estrada não tiveram piedade de um dos raios de sua roda traseira. Com um a menos, o aro entortou, mas não percebeu logo de cara. Acabou gastando energia extra à toa, ao longo de uma boa distância, por pedalar com o freio raspando à cada volta da roda. Ao notar, optou por soltar o freio e ficar apenas com o dianteiro.
A paisagem que a Estrada da Limeira revela depois da serra faz o viajante pensar que entrou em um mundo à parte. Você sabe que está ali perto de alguns lugares que provavelmente já conhece, mas custa a acreditar como nunca viu antes aqueles morros tão bonitos, plantações tão bem cuidadas, e até mesmo localidades tão simpáticas das quais nunca ou tão pouco ouviu falar.
E como uma viagem nunca é igual à outra, desta vez o Heron mostrou também uma entrada que dá acesso a mais um belo lugar à margem de um rio. Daria outro memorável banho, mas estava mais para local de pesca. Um grupo se divertia ali, aparentemente por lazer, ao pescar lambaris. Confesso que não tenho paciência para pescar. Mas para comer peixes, aí pode me chamar.
Em Canasvieiras, onde paramos no comércio à beira do rio, não faltou aquela mais do que especial porção de lambari frito com limão, a qual o Heron merecidamente elegeu como "prato oficial" daquela localidade.
Ponte Molhada
Fui conhecer este tipo de ponte somente nestas aventuras do NaturezArLivre. Trata-se de uma construção simples com tubos pré-fabricados dispostos sobre o leito do rio, e uma pista de concreto sobre elas, permitindo a travessia de carros ou pedestres. Enquanto o rio flui normalmente, a água passa por dentro das manilhas (tubos). Quando o rio enche, a água passa a fluir também por cima da pista - daí o nome ponte molhada. "Aprendendo por aí" *.



Outro aspecto interessante é que as manilhas acabam represando parte do rio, formando assim uma espécie de piscina. Então, claro que não faltaram ali dois ciclistas aventureiros prontos para mergulhar!
Nadar ali é até engraçado de ver. Ou um tanto perigoso. Como a correnteza é um pouco forte, quando eu nadava a favor do rio... que facilidade... sentia-me como um atleta profissional. Em compensação, voltar nadando era fazer pernas e braçadas vorazes vendo-se deslocar por apenas algumas pedras no fundo do rio, mais ou menos como ver alguém correr parado ou numa esteira.
Noutro ponto da margem rio, em uma parte profunda, notei que havia uma rocha com uma altura boa para pular na água. Mas alguns dos garotos moradores dali divertiam-se saltando de um galho de uma árvore acima desta rocha. Nem me atrevo a arriscar qual a altura do galho até a água. Nem mesmo coube no enquadramento para a foto. Sei que dava vertigem só de olhar. Não sei o era mais perigoso, se o salto em si, ou o galho fino em que os guris se seguravam para escalar a tal arvore.

Com ajuda extra
Saímos dali por volta de 16h15. Tirando as duas butucas que Heron trazia orbitando seu capacete e a árdua batalha até livrar-se delas, o resto era só tranquilidade e a bela paisagem da região, que fazem a gente esquecer do tempo. A carga na bicicleta e a mochila não chegam a ser um incômodo, mas diminuem o rendimento da pedalada. Comecei a me dar conta de que ainda um longo trecho pela frente. Lembrei de vários lugares onde ainda não tínhamos passado, inclusive um vasto campo, uma grande reta e o bananal antes da ponte pênsil. Foi aí que senti que o cansaço estava chegando. Até passar por esses lugares lembrados, ainda tivemos uma parada em mais outro riozinho e outra junto a uma bica que foi mais um presente da natureza para completarmos nossa garrafas com água gelada.
Depois de cortar caminho usando a ponte pênsil sobre o rio Cubatão, saímos numa outra estrada de chão, porém mais movimentada. De dentro de uma van branca que carregava mercadorias, dois meninos que estavam no banco do passageiro cumprimentaram-nos, como se soubessem que viemos de longe.
São gestos simples, talvez até habituais, mas que de certa forma nos desejam boas vindas ao lugar e forças para continuar. Sempre lembro, há uns 15 anos atrás, de como eu fiquei admirado ao encontrar três ou quatro cicloturistas chegando em Guaraqueçaba, vindos desde Curitiba. O Heron contou-me sobre Antonio Olinto, advogado, que escreveu um livro* onde conta que deixou de lado a moto e passou fazer suas viagens de bicicleta. Mais do que lembranças, são algumas das inspirações que explicam nossos gostos por aventuras como esta.
Então, voltemos a ela. Carros e caminhões levantavam nuvens de poeira, enquanto tentávamos apressar a pedalada. O céu escurecia anunciando chuva, e os relâmpagos diziam que não seria uma chuvinha qualquer.
E foi justamente num momento de cansaço, quase fim do dia, já terminada aquela parte mais bonita do caminho e ainda a uns 15 ou 20 km de Garuva, quando novamente passou por nós aquela van branca. Chegou e foi parando ao meu lado. Pensei que fosse pedir alguma informação. Que surpresa quando o motorista perguntou se queríamos carona. Acomodamos nós e as bicicletas entre umas cestas vazias e uns botijões de gás. Que santo motorista e que carona providencial! Mal entramos na van e a chuva forte começou. Fomos abrigados e descansando até chegar ao mercadinho em Garuva. Até a chuva parou antes do fim da carona.


Dali, seguimos pedalando 15 km adiante, em direção à Vila da Glória.

.... E continua...

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Relato do Pedal 2009/2010 - Parte 01/muitas

Este relato pedi ao Roberto Brandão para que me enviasse o qual estaria publicando no blog, assim ele o está fazendo aos poucos para que possamos criar expectativas de como foi este final de ano maravilhoso.

Eis aqui o esboço do circuito no mapa e um começo que merece ser contado com calma...

Pedal de 2009/2010

Morretes (América) - Serra da Prata e Limeira - Garuva - Vila da Glória - Itapoá (pela costa) -

Guaratuba e Caiobá - Gaivotas - Floresta Estadual do Palmito - Morretes (América)

262 km

Heron Mathoso / Roberto Brandão

Num dia, já estava conformado em passar a virada de ano em casa. Nem imaginava que no dia seguinte, depois de alguns telefonemas do Heron, eis que estaríamos em Morretes, prontos para começar o que seria uma grande volta de bicicleta rica em boas histórias, encontros com velhos e novos amigos, e em meio a lugares inacreditáveis.

E se digo lugares increditáveis, tanto quero expressar o fato de serem belíssimos por natureza, quanto falo da minha dificuldade em acreditar que tinha passado por lá. Na travessia de balsa de Guaratuba para Matinhos, por exemplo, o Heron apontou para as montanhas quase cinzas mas ainda visíveis, do lado oposto ao do mar e lembrou que passamos por trás delas, de Norte a Sul, chegando até o litoral e ali estávamos. Hein?! Como assim? Calma.. Vamos explicar essa volta maluca que fizemos, esse agora inaugurado "Circuito Vale Heron".

Fase 1:

Partimos de uma chácara na região da América, em Morretes-PR, passamos pela Estrada da Anhaia, e pela rodovia asfaltada que se liga à BR-277. Já no início, precisamos perguntar sobre caminho até o Anhaia. Soubemos que teríamos que atravessar um rio adiante.

A vaca apavorada

Na verdade, foi preciso atravessar bem mais do que um rio. Num certo trecho, apareceu uma boiada vindo em nossa direção. Era vaca para todo o lado, ocupando a estrada inteira. Se eram perigosas, eu ainda não sabia. Mas que tinham dois chifres bem pontudos, tinham. Esperamos parados na margem direita da estrada, enquanto o boiadeiro gritava "direita!" e todas as vacas enfileiravam-se e passavam por nós. Só que elas passavam um tanto assustadas com a nossa presença. Até parecia que nunca viram duas criaturas com duas rodas, camisetas coloridas e capacetes de extraterrestres por aquelas pastagens antes.

As vaquinhas foram passando, passando, até que restaram quatro, três, duas vaquinhas... e aí só Deus explica porque justo a última vaca resolveu parar e empacar na nossa frente. Imagino que aquela ali sabia o quanto nós apreciamos um bom churrasco. Podia-se ver a expressão de medo nos olhos de jabuticaba da vaca. Suas pernas, quando ensaiavam um passo adiante, tremiam feito vara verde e recuavam dois. Numa tentativa de acalmar a bovina, chamei-a, voltei, apontei o caminho, mas ela se assustou mais ainda. Com as cercas dos dois lados da estrada, nem ela nem nós podíamos nos esconder no mato. Então, fazer o quê, como não dispunha de todo o tempo do mundo, o jeito foi avançar devagar e esperar para ver se ela reage de vez e toma uma atitude de vaca. Que nada. Fez meia-volta e correu para longe do rebanho. E o boiadeiro? Este tinha passado já há algum tempo e estava até fora da vista. A vaquinha, coitada, voltou a cabeça umas duas vezes só para ver se nós já tínhamos desaparecidos, se por acaso nosso disco voador não tinha voltado para nos tirar dali. Para desespero da fugitiva do rebanho, não. Por fim, ela correu até onde não enxergamos mais e entrou numa propriedade cuja porteira estava aberta. O que com ela aconteceu depois disso, agora só perguntando para a própria vaca.

Pé no rio

Tomamos uma ramificação da estradinha, conforme nos indicaram. Dali para diante, poças de água cada vez maiores iam aparecendo. Desvia pela direita, desvia pela esquerda, pelo meio.. e opa, esta é grande, passa por dentro, mesmo. Assim, molhando os aros nas grandes poças de água pelo caminho, cuidei para não molhar o tênis, batendo giros incompletos no pedal até sair da poça. Até poderia molhar aquele calçado. E daí, oras? Problema é que pedalar depois com as meias molhadas deixaria o tênis, no mínimo, com um terrível odor de gato morto. Heron, que já começou de sandálias, ideal para este clima, nem precisou se preocupar.

Chegamos ao riacho com pedras. Parecia raso e tranquilo o tal rio. Pendurei então um tênis em cada lado do guidão. Eu atravessei descalço, empurrando a bike, sem dificudades. Depois, sequei os pés num trapo que eu levei para este tipo de coisa e calcei novamente o tênis.

Porém, poucos metros depois, surpreendi-me com outro rio, um gigante que interrompia a estrada, bem mais largo que o primeiro. "Ah, é ESSE o rio...!" - exclamei. Seria fundo? Notei que pela outra margem estava chegando um senhor de idade e também estava de bicicleta. Sugeri esperar o homem - provável conhecedor da região - atravessar para seguirmos o melhor caminho. "Aí pelo meião mesmo" - orientou o homem. Notei que a água chegava até a cintura, mas isso para quem conseguia se equilibrar e não cair. Tratei de tirar a câmera da cintura e amarrá-la na altura do peito. Heron nem esperou o homem terminar a travessia. Usou a boa técnica de segurar a bicicleta nas costas e caminhar livre. Passou um apuro chegando no final, onde a correnteza era forte. Assim mesmo, atravessou melhor que o velho.

Eu não conseguia fazer o mesmo. Minha bagagem, quase toda atrás e mal amarrada no bagageiro, deveria ter vindo com aquele símbolo "este lado para cima" na etiqueta. O máximo que eu consegui foi erguer um pouco a bike ao lado do corpo, segurando pela barra vertical do quadro. Precisei fazer força para me segurar contra a correnteza que empurrava minhas canelas e as rodas da bike, com o braço cansando de segurar, tentando me equilibrar e tatear as pedras do fundo para atravessar todo o rio. Sabia que se não me concentrasse bastante, tombaria e deixaria a bicicleta e a bagagem toda ser levada rio abaixo. No mínimo, seria cair e molhar a câmera. Felizmente, deu tudo certo em nossa travessia. O máximo que aconteceu foi sujar os pés com a terra molhada da margem do outro lado. Bastou pedalar descalço até secar a lama.

.... Continua.

E tem muito chão pela frente!

Os apontamentos estão completos. Agora saem os textos.